Espace mondial, o que isso significa? Trata-se, como você sabe, de uma palavra francesa. É também um curso destinado aos estudantes do Instituto francês Sciences Po. O famoso e bem conhecido Instituto francês onde nós estamos formando tantos políticos franceses. Espace mondial – Eu escolhi uma palavra francesa porque gostaria de designar algo um pouco diferente daquilo que é atualmente ensinado nas universidades americanas ou britânicas, ou em muitas europeias. Claro que este curso está muito ligado a estudos globais, ou seja, uma visão global do nosso mundo que tenta ir mais longe, e ir além da clássica visão das relações entre Estados. Mas Espace mondial tem também um toque francês. Isto é, uma visão francesa a partir da cultura e da história francesas sobre o que o mundo é atualmente. Isso implica novas perspectivas e também um novo contexto. Novas perspectivas. Novas perspectivas querem dizer estudos globais e aqui Espace mondial nos propõe a reconsiderar a ação, a reconsiderar a identidade, a reconsiderar espaço e território, a reconsiderar também as principais dimensões de nosso mundo. Reconsiderar a ação, em primeiro lugar. Não é possível agora, em nosso mundo atual, conceber uma ação, mesmo uma ação local, sem situá-la em um contexto global. Isso quer dizer que o processo de tomada de decisão, mesmo em nível individual, é muito diferente de uma perspectiva tradicional que tínhamos sobre isso. Mas isso também implica dizer que a ordem mundial é completamente feita por bilhões de ações individuais, de tantas interações entre atores individuais ou grupos, ou seja, que no nosso mundo temos atualmente sete bilhões de atores. Isto quer dizer que não podemos considerar o mundo a partir das iniciativas tomadas apenas por Estados, o que significa, também, que devemos levar em conta os atores não estatais: ONGs, empresas multinacionais, mídias e outros atores transnacionais agregados, como os migrantes ou os investidores, etc. Assim, a ação não tem o mesmo significado que antes. Mas a nova perspectiva é, também, uma nova visão de identidade: nós estamos agora em um mundo de identidades plurais, voláteis. Um mundo onde o compromisso nacional não é mais o principal parâmetro da decisão internacional e do comportamento internacional dos indivíduos. Estamos em um mundo onde a alteridade é uma noção muito complexa, ou seja, agora temos que definir os outros, e os outros não são somente amigos ou inimigos, são não mais que cidadãos do mesmo país e cidadãos de outros países. Nós temos tantos fluxos transnacionais que as identidades se cruzam, identidades são mais e mais complexas e feitas de diferentes tipos de alianças e compromissos. Novas perspectivas: isso significa também uma nova visão de espaço e território. Anteriormente, era muito fácil considerar o mundo como feito pela coexistência de Estados-nação. Nós estamos agora em um mundo que é mais complexo. Antes de tudo, porque as fronteiras não são tão eficientes como eram antes, e, assim, há muitas relações transnacionais que as ignoram, o que explica por que a soberania territorial, que previamente existia, não existe mais como era. E também, existem hoje inúmeros processos de integração regional na Europa, América Latina, África e assim por diante. E, então, o que o famoso estudioso japonês Kenichi Omahe chamou de “Estados regiões” é um dos parâmetros da ordem territorial muito complexa de nosso mundo. Isso quer dizer que nós temos agora uma integração transnacional, uma integração regional, mas também espaços locais que estão ganhando cada vez mais importância e mais relevância. Estamos em um mundo “glocal”. É por isso que a noção de espaço é algo difícil, e eu tento expressar por meio dessa palavra do Espace mondial. E essa nova perspectiva nos leva a considerar as múltiplas dimensões do nosso mundo. Você sabia que a cada 3 horas 2.800 pessoas morrem de fome no mundo, ou seja, o equivalente a 8 ataques do World Trade Center todos os dias? Este é um parâmetro fundamental do nosso novo mundo, esta é a nova dimensão. Considere, por exemplo, que o clube de futebol Manchester United possui um orçamento de 1 bilhão e 400 milhões de euros quando a FAO, que é especializada, como você sabe, em combater a fome no mundo, possui um orçamento que é limitado a 600 milhões. Considere que o ataque norte-americano ao Iraque custou 1 trilhão de dólares quando o fundo do DPKO, Departamento das Nações Unidas especializado em operações de manutenção da paz, possui um orçamento anual de somente 7 bilhões de dólares. Ou seja, as dimensões do nosso mundo e da ação internacional são muito diversificadas e devemos considerar todas essas discrepâncias como um dos principais parâmetros de nosso Espace mondial. Novas perspectivas mas também novo contexto intelectual. Eu sou um cientista político, mas, no entanto,, eu sei agora que, para observar o mundo e o Espace mondial, tenho que mobilizar o conhecimento que tem sido construído por tantas ciências sociais, é impossível possuir uma visão correta do nosso mundo sem levar em conta Economia, História, Sociologia, Direito, Geografia, Antropologia e assim por diante. Claro que eu não sou um especialista de todas essas disciplinas mas minha pretensão é considerar os resultados de meus colegas de diferentes campos e fazer uma síntese a qual eu irei oferecer a você durante todos esses cursos. Nós temos agora que defender um comportamento transdisciplinar, uma visão para ter em conta nosso presente Espace mondial. O outro novo contexto é o universalismo. Todos nós, e especialmente entre as pessoas ocidentais, somos convencidos de que estamos portando universalidade. É claro que muitos valores humanos são universais, mas ninguém no mundo inventou a universalidade. Universalidade também é feita de pluralidade, e nós temos que considerar essa visão plural do mundo para explicar a guerra, o poder, a paz e assim por diante. Isso implica voltar à comparação, esse curso enfatizará a comparação como o principal modo de entender o nosso mundo, para explicar os processos sociais e políticos e também para oferecer, muito modestamente, algumas soluções. E o terceiro novo contexto é que estamos em um mundo de mobilidade. O mundo global resulta em um mundo móvel, quer dizer, através de migrações mas também através da circulação de informação, de ideias e em geral pela múltipla interação, interatividade entre os atores. Essa mobilidade está no cerne dessa nova visão do mundo. É o toque francês, claro. Esse toque francês, como veremos juntos, não é tão diferente dos outros, mas a especificidade desse MOOC é oferecer a você uma visão que tem sido moldada através de uma longa história política e intelectual da França. Mas senhoras e senhores, eu não sou um nativo de país de língua inglesa. Eu sou um homem francês e por isso eu utilizarei a língua inglesa para tentar entrar em contato com vocês, então, por favor, desculpe-me pelo meu mau inglês, mas o principal objetivo é trocar com vocês, este é o objetivo real do nosso MOOC.